Luzes, câmara, ação! O final do mês de Agosto chegou e com ele toda a “mise en scène” que engloba uma vindima. Desde o controlo de maturação da uva na vinha, ao providenciar a logística com os viticultores, com os trabalhadores que apanham a uva (já são poucos), o transporte para chegar à Adega de São Vicente, os produtos enológicos, as câmaras de frio… tudo o que faz parte da vindima, que nada tem a ver com o conceito romântico popular, diga-se, que é pisar a uva e beber muito vinho!
Todo o trabalho de um ano, que pode representar um vinho de excelência, esse é o desejo de todos os enólogos do mundo inteiro que muito se esforçam para fazê-lo. É nesta fase que compreendemos se o trabalho feito em vinha e os gastos tidos justificam a uva que vamos receber e escolhemos os lotes em função disso mesmo.
O ano de 2018 ficará para sempre marcado como diferente em quase toda parte do país, sendo que a Madeira não foi uma exceção. Houve cerca de 25%/30€ de perda de uva, muito sacrifício para controlar as maturações e aguentar as uvas o máximo de tempo na vinha, almejando que durante o mês de Setembro chovesse pouco ou nada, mais especificamente até à primeira semana de Outubro, data em que se vindimou as uvas do Ilha DOP Madeirense.
Em suma, a excitação, a necessidade e vontade de fazer com que este ano fosse igual ou melhor que o ano anterior, tornou esta vindima das mais difíceis, sofredoras, mas no fim mais enriquecedoras da minha história enquanto produtora de vinho, com a casta Tinta Negra e a novata Verdelho no nosso projeto.
Há alguma região do país onde fazer vinho seja fácil? Creio que não, no entanto fazer vinho na Madeira é de extrema exigência. Primeiro estamos a falar de uma região que tem uma temperatura média anual de 19o e isso faz com que no nosso caso em específico, com a Tinta Negra, tenhamos maturações entre os 10,5 e no máximo 12o de álcool provável, ainda que este último é muito raro e difícil obter. As vinhas são em latada e já há poucos trabalhadores a quererem trabalhá-la quer na poda, como na apanha e por fim há um monopólio na ilha da Madeira no que concerne a esta uva, uma vez que é utilizada para todos os vinhos Madeira de 3 anos e mais recentemente em alguns colheitas desta casta, uma vez que desde 2015 que se coloca o nome da casta no rótulo (situação que não acontecia desde os primórdios da existência da casta na ilha, que data do século XVIII).
É com muita felicidade que digo que fomos os primeiros a fazer uma trilogia e ter algum destaque com a casta para vinhos de mesa, na comunicação social. Conseguimos estar nos melhores garrafeiras e restaurantes do país apenas em 5 meses. Fomos impulsionadores desta casta, assim como os primeiros a focar-nos apenas na Tinta Negra, como a nossa bandeira!
Este ano sabemos que outros produtores vão fazer vinhos com a Tinta Negra, o que nos orgulha imenso.
Diana Silva
Texto de Opinião por Diana Silva