Os “Cegos” voltaram às Provas.

Os “Cegos” voltaram às Provas.

Depois de um período de maior dedicação online que nunca, organizámos uma prova que se  pretendia um hino aos espumantes portugueses e, ao mesmo tempo, um excelente pretexto para brindarmos à vida, à família e aos amigos… ou a basicamente tudo o que merecesse ser celebrado no rescaldo ainda bem vivo destes negros dias.

Assim, selecionámos 7 Blanc de Blancs (feitos com uvas de castas brancas) e 7 Blanc de Noirs (com uvas de castas tintas), abrangendo várias regiões do país, alguns produtores clássicos e outros mais novos no mercado, mas que entendemos serem dos melhores de Portugal.

Como vinhos “zero”, afinadores de palatos e aferidores de bitola, tivemos dois interessantíssimos Blanc de Blancs da Região dos Vinhos Verdes: o Quinta de Curvos 2016 e o Joaquim Arnaud Brut Nature 2015.

Com o treino feito, começou o sublime desfile:

Das Caves Transmontanas selecionámos o Vértice Gouveio 2011 como representante dos Blanc de Blancs e o Vértice Pinot Noir 2010 assumindo as cores dos Blanc de Noir, ambos produzidos pelos enólogos Celso Pereira e Pedro Guedes.

O Vértice Gouveio 2011, com dégorgement em Janeiro de 2019, é um espumante muito fresco e com boa estrutura, apto a dirimir argumentos com variadíssimos pratos de comida.

O Vértice Pinot Noir 2010, com dégorgement em Abril de 2019 tem um impressionante tempo de estágio de 96 meses. É um espumante que também prima pela frescura, mas mais requintado, recomendando-se para aperitivos e pratos à base de camarão, lagosta e salmão.

Prova Cega de Espumantes Nacionais

Da Idealdrinks com o lema Proudly Produced in Portugal, ou seja, orgulhosamente tuga, veio o Colinas Blanc de Blancs Cuvée Brut Reserve 2014, um 100% Chardonnay com 5 anos de estágio, mostrando-se fresco e cheio de classe, podendo acompanhar entradas, marisco ou um peixe grelhado.

Pela mão do enólogo João Póvoa, escolhemos o novíssimo Kompassus Grande Reserva 2014, um Pinot Noir e Baga, depois de 50 meses de estágio sobre as borras finas, com uma elegância notável, óptimo para entradas ou a solo, clamando boa conversa.

Da Quinta de Vale de Azar (Bairrada), com terrenos predominantemente argilo-arenosos e pequenas zonas de calcário provêm as uvas que fazem este Campolargo Cercial 2013. Trata-se de um espumante com um baixíssimo teor de açúcar residual e baixo teor alcoólico, que fez a fermentação em cubas de inox e uma pequena parte em barrica. Esperem encontrar notas de flores brancas no nariz e notas ligeiras de fruta branca no paladar, num ambiente de grande finesse e frescura.

O Dão não é certamente uma região famosa pelos vinhos espumantes, mas nem por isso Carlos Lucas, deixou de prestar homenagem à casta rainha destas terras altas e graníticas, a Touriga Nacional, e produziu a partir de uma parcela especial da emblemática Quinta de Ribeiro Santo, este Ribeiro Santo Excellence Brut Nature 2014. A acidez é elevada, e promete aromas delicados de alperce, com alguma tangerina e ligeira tosta na boca, num corpo de grande cremosidade e profundidade.

Um dos espumantes mais invulgares é o CVIP Projetos 2016, um Blanc de Blancs açoriano, elaborado com a casta mais rara das autóctones daquele arquipélago: o Terrantez do Pico. Com três anos de estágio, é uma edição muito limitada (cerca de mil garrafas) e transporta-nos para o meio do atlântico com as suas inconfundíveis notas salgadas e de maresia.

Giz Brut Nature Cuvée de Noirs 2016 foi outra das raridades presentes em prova com apenas 840 garrafas produzidas. Feito com base 100% Baga de vinhas centenárias, este vinho bairradino, de Luís Gomes, repousou sobre borras durante 28 meses, tendo o dégorgement ocorrido em Maio de 2019. Este espumante dá-nos, com garbo, tudo aquilo que esperamos de um grande vinho daquela região: equilíbrio, elegância, mineralidade e frescura.

Outros dois espumantes que, não obstante a sua notória qualidade, podem ser considerados como “menos comuns” são o Terras do Avô 2015 e o Luís Pato Vinha Pan 2017. O primeiro é um Blanc de Blancs 100% Verdelho da Madeira, degorjado em Março de 2019. Apesar de ser apenas a segunda edição do primeiro espumante da Região, carrega o peso do sucesso do seu antecessor (que resultava de um blend de Verdelho e Sercial), e que com apenas 250 garrafas produzidas, surge como uma verdadeira raridade. O Luís Pato Vinha Pan 2017 é um Blanc de Noirs 100% Baga, com dégorgement em Novembro de 2019, sem sulfitos, dosagem ou colagem. Proveniente da vinha que lhe dá o nome, é uma expressão clara da aptidão desta casta para a elaboração de espumantes.

O Raríssimo 2006 é obra de Osvaldo Amado, que respeitando o epíteto de “Sr. Arinto”, nos apresenta um 100% Arinto a transbordar elegância e delicadeza, notas maduras de maçã reineta e limão, frutos secos com amêndoa a dominar, bolha fina e levíssima mousse, mantendo crocância. O final é persistente e pura finesse. Degorjado em 2018, é um dos recordistas de tempo de autólise no nosso país e dificilmente se encontra algo tão elegante.

Para o seu centenário, as Caves de São João escolheram um festivo espumante com uma das castas rainhas deste estilo: a Pinot Noir. O Espumante Caves São João 100 Anos de História 2015 esperou 48 meses em garrafa antes do seu dégorgement em Maio deste ano. Pela mão do experiente enólogo José Carvalheira, cada garrafa encerra em si um lado afrancesado de brioche e biscoito, frutos secos, limão, passa de uva e figo, leve fruta vermelha e mel. Bela mousse, bolha fina e viva acabam em final complexo e longo.

Uma prova de espumantes nacionais não poderia acontecer sem representantes da “Champagne Portuguesa”. Falamos, claro está, da região de Távora-Varosa e do seu produtor mais icónico – a Murganheira. Como representante dos Blanc de Noirs escolhemos o Cuvée Especial 2007, um espumante 100%  Tinta Roriz, cujos 12 anos de estágio – uma enormidade!, deram enorme complexidade e conjugados com as características únicas da região, frescura e acidez. Um espumante único, que se bate de igual para igual com qualquer referência mundial. Como Blanc de Blancs foi selecionado o Murganheira Chardonnay 2010, uma das castas clássicas, com 9 anos de estágio, sendo ao mesmo tempo volumoso e fresco.

A prova decorreu na Quinta de Lourosa com 12 provadores, estando incluídos 6 membros da equipa dos Cegos por Provas, 4 enólogos (sem vinhos seus em prova) e 2 enófilos e profissionais da área dos vinhos. As garrafas foram tapadas e a ordem de prova, dentro de cada categoria, foi aleatória e efetuada por elementos não provadores. Foi usada a tabela da O.I.V. para espumantes, com pontuações até 100 e depois converteu-se para a escala até 20.

E os resultados? Bem, tivemos algumas surpresas e confirmações. Como para nós, todos são grandes espumantes e não há perdedores, vamos realçar pela positiva e apenas mostrar o Top 3 dos Blanc de Blancs, Top 3 dos Blanc de Noirs e o Top 5 Global.

Nos dos Blanc de Blancs, o preferido foi o madeirense Terras do Avô 2015, surpreendente para quase todos os que não conhecem este produtor, mas não para quem já tinha provado o 2014 (que ganhou uma prova de Blanc de Blancs organizada pelo “nosso”Miguel Abreu). Obteve uns admiráveis 95,3 (18,5) e, ainda para mais, foi o espumante mais pontuado de todos em prova. Quase com a mesma pontuação, 95,0 (18,5), ficou o duriense Vértice Gouveio 2011, um dos que há vários anos fica nas preferências de quem gosta de espumantes. A fechar o Top 3 temos o Colinas Blanc de Blancs Cuvée Brut Reserve 2014 com 93,2 (18); um bairradino com perfil aproximado a Champagne.

Quanto aos Blanc de Noirs, venceu o Vértice Pinot Noir 2010 com 93,5 (18), um dos mais fortes candidatos à vitória e que não deixou os seus créditos por mãos alheias. A seguir, uma surpresa: o Giz Brut Nature Cuvée de Noirs 2016, com 92,5 (17,8); é um espumante bairradino, de um novo produtor, que na sua primeira edição mostra já muita qualidade.

A fechar o top 3 tivemos um espumante muito especial das Caves São João, o 100 Anos de História 2015, também de estilo champanhês, com muita classe.

Quanto ao top 5 global, percebeu-se que nesta prova houve uma preferência pelos Blanc de Blancs, que alcançaram o 1.º, 2.º e 4.º lugares. As Caves Transmontanas merecem uma especial referência, pelo feito de conseguirem ter os dois Vértice no Top 3: segundo e terceiro lugares.

Categorias Notícias, Provas Cegas

Acerca

Cegos Por Provas

Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.