Dentro da Garrafa com Carvalhão Torto

Dentro da Garrafa com Carvalhão Torto

Como começou a tua aventura no mundo dos Vinhos?

Como projeto esta aventura começou em 2004, todavia, o mundo do vinho sempre esteve presente nas conversas de família. Além de ter sido a área em que o meu pai trabalhou também era a sua paixão, produzindo algumas das referências que fazem parte da história do Dão.

Quando começou o projeto do Carvalhão Torto? E porquê?

A Quinta foi adquirida pelo nosso avô no início do século passado, já nessa altura tinha como principal cultura a vinha, as uvas eram vinificadas em lagares de granito e o vinho produzido era vendido a granel. Numa fase posterior, com o aparecimento do sistema cooperativo, o meu avô passou a vender as uvas.

Como referi o projecto começou em 2004, a aposentação do meu pai e a vontade de produzirmos vinhos com as nossas próprias uvas foram fatores determinantes, sempre com a premissa de fazermos vinhos genuínos cheio de tipicidade fiéis discípulos dos grandes clássicos do Dão.

Onde estão implantadas as vossas vinhas?

As nossas vinhas estão implantadas em Nelas em pleno coração do Dão, a uma altitude de 450 m, solos granítico quartzíticos, potenciadores de frescura e mineralidade que é reconhecida nos nossos vinhos.

Os teus vinhos são reconhecidos como sendo o perfil clássico do Dão. Fala-nos um pouco dos teus vinhos e do porquê de lhe colarem este “rótulo”?

Esse sempre foi o nosso principal objetivo, produzir vinhos com identidade fiéis à região e é com bastante satisfação que vemos essa nossa premissa ser reconhecida.

O segredo está simplesmente em respeitarmos o que a vinha nos dá ano após ano, procuramos equilíbrio e frescura, não usamos madeira, queremos potenciar a tipicidade das castas autóctones e do “terroir”.

Somos pacientes e esperamos pela altura que julgamos mais apropriada para vindimar e para colocar os vinhos no mercado, não corremos atrás de modas.

Infelizmente, hoje em dia fruto da pressão económica os vinhos são colocados no mercado demasiado jovens. 

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Se fosses plantar vinha amanhã… quais as castas que darias primazia no teu plantio?

Fruto da sua orografia, falta de investimento e algum isolamento o Dão é das regiões do país com maior variedade de casta autóctones, muitas das quais são pouco representativas no encepamento atual da região.

Este património tem um grande potencial, como tal daria primazia a essas castas, por exemplo: Uva Cão, Luzidio, Douradinha, Barcelo nas brancas, nas tintas o Tinto Cão, Tinta Negra, Rufete a Baga.

Tens no teu pensamento o objetivo de fazer vinho noutra região que não o Dão? (se sim) Onde?

Não, neste momento não coloco essa opção.

Apesar de reconhecer que em termos comerciais é mais fácil trabalhar com vinhos de outras regiões.

Que futuro vês para o Carvalhão Torto? E que futuro desejas para o Dão? Achas que a comparação com a Borgonha é certa? Justa?

Fazendo uma análise aos anos que passaram e à estratégia que adotamos vejo o futuro com bastante otimismo, o mercado valoriza cada vez mais o regresso às origens, a tipicidade dos produtos.

Relativamente ao futuro do Dão, não sendo uma opinião só minha, mas sim uma opinião cada vez mais generalizada entre críticos e agentes económicos doutras regiões, o Dão tem um potencial enorme não só pela frescura e a elegância dos seus vinhos ímpares, mas também seu potencial na vertente enoturística.

Falamos da particularidade de cada Quinta, das suas histórias, que aliada a uma diversidade de oferta turística que a região dispõe como a neve, o termalismo, turismo de aventura, natureza, a gastronomia e património são fatores estruturantes para uma oferta global.

Não é por acaso que temos cada vez mais investimentos de agentes económicos de outras regiões no Dão. Vejo isso como muito positivo, pois vem potenciar a comunicação e a divulgação da região, criando toda uma dinâmica que será benéfica para todos.

Em relação à velha comparação do Dão à Borgonha, parece bastante justa pelas semelhanças organoléticas entre os vinhos das duas regiões, falamos de vinhos cheios de complexidade aromática, delicados e elegantes.

Fernando Costa – Cegos por Provas

Acerca

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Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.