No passado dia 13 voltamos às provas, com a primeira prova cega de 2023. Foi altura de virarmos as atenções para os vinhos de curtimenta, um estilo que ganha cada vez mais adeptos e onde podemos encontrar cada dia mais produtores a aventurarem-se por este modo de elaboração.
Tivemos um painel bastante heterogéneo, com a presença de enófilios, profissionais e inclusive de dois produtores, o Paulo Matos Graça Ramos e o Henrique Cizeron, que tiveram a gentiliza de nos ajudar com a introdução ao tema e umas breves explicações para contextualizar a prova, além de terem trazido um vinho que estão a produzir em conjunto, ainda não lançado para o mercado, e que serviu como vinho zero para calibrarmos os palatos. Sobre o mesmo, devemos dizer para estarem atentos, pois promete bastante!
Começamos a prova com o conjunto dos vinhos com uma curtimenta até dez dias. Apesar de um número mais reduzido de exemplares, foi já possível observar uma pluralidade estilos, desde vinhos com a curtimenta a marcar o estilo nas notas mais de casca de laranja e especiarias, e de bocas já com tanino presente, até vinhos em que o método aparenta servir apenas como uma “ferramenta” para exponenciar o lado aromático e dar mais estrutura. O mais destacado neste conjunto foi precisamente um vinho com um período bastante curto de curtimenta (24 horas), o Natus do Hamilton Reis, que se destacou dos demais para o conjunto dos provadores. Um vinho austero, tenso e mineral, com um longo caminho ainda para mostrar tudo o que vale. Os restantes vinhos que completaram o top5 tiveram pontuações bastante aproximadas, estando os 4 num intervalo de apenas 0,37 pontos, o que mostra bem o equilíbrio e qualidade dos mesmos. E aqui já era evidente a diversidade de estilos, com Primeiras Gotas Fonte 2022 (Gardunha Sul) a mostrar o lado mais radical e funky do espetro, o Giz Curtimenta 2021 do Luís Gomes num registo mais contido e o método a mostrar-se menos, ficando os dois restantes (Quinta da Várzea da Pedra Curtimenta VV 2020 e Herdade do Cebolal Colheita Branco 2021) num estilo intermédio.
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Passamos depois para o grupo dos vinhos com mais de dez dias de curtimenta. Aqui foi ainda mais evidente a enorme variedade de estilos, e foi onde as diferenças entre os provadores foram mais marcadas, com uma grande heterogeneidade de opiniões. O grande vencedor foi o Protótipo Curtimenta C1 de 2020 do Manuel Valente. Um Chardonnay de Távora Varosa, com cerca de 3 semanas de curtimenta, e onde o método está bem presente, nas notas de casca de laranja, licorosas e algumas terrosas, com uma boca ampla, seca e de final prolongado, mas com o equilíbrio a percorrer toda a prova. Muito próximo do primeiro lugar ficou o Anselmo Mendes Tempo 2017, a quem a idade trouxe uma excelente complexidade, e mostrou ser dono de uma elegância extrema. A fechar o top5, três vinhos mais uma vez com uma pontuação muito aproximada. Com o Alto do Joa 2020 voltamos ao estilo âmbar, um verdadeiro “Orange Wine”, com potência e persistência. O Luís Capitão da Herdade do Cebolal mostra dominar o método, repetindo presença no top, aqui com o Vinha do Rossio 2020. E a fechar, o Erro B 2020 da Quinta do Mouro, com frescura pouco comum para a região e o equilíbro como nota dominante.
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Depois de uma prova que acreditamos não ter sido feita até hoje em Portugal, com 18 dos melhores exemplares de vinhos elaborados por este método tão particular, e da grande maioria das regiões nacionais, podemos dizer que existem excelentes vinhos de curtimenta, para todos os gostos e públicos, e que são uma prova viva do dinamismo dos produtores nacionais.