Vinhos brancos dos Açores Às cegas no Wine in Azores 2018

Vinhos brancos dos Açores Às cegas no Wine in Azores 2018

Que os Açores têm enorme potencial para nos darem dos vinhos mais salinos, frescos, minerais e ácidos que há, já sabemos. Que vão despertando cada vez mais interesse em alguns enólogos do continente e em muitos provadores, também. Mas será que já estão no patamar que se prognostica e deseja?

A segunda edição da “Prova Cega de Vinhos Brancos dos Açores” feitos apenas com castas autóctones deste arquipélago foi, mais uma vez, além de um grande desafio, uma enor- me aprendizagem, pois se para alguns dos presentes esta terá sido a primeira experiên- cia com estes vinhos, para outros foi possível avaliar as colheitas mais recentes ou reava- liar as anteriores (agora com mais um ano de evolução) ou mesmo avaliar algumas ilustres estreias em prova que, de tão ilustres, chega- ram mesmo a arrebatar os dois primeiros lu- gares. Mas já lá vamos.

Primeiro, as castas: Verdelho, Arinto dos Aço- res e Terrantez são as castas referenciais, em varietais ou em lotes; no vinho da Graciosa encontramos ainda o Boal.

Em segundo lugar, voltemos ao desafio e à aprendizagem: esta prova foi mais especial ainda, tendo em conta que o número de gar- rafas que alguns dos produtores conseguem produzir não ultrapassa as cinco centenas; por outro lado, é extremamente interessante ten- tar-se perceber alguma ligação nas prácticas e estilos entre ilhas que produzem em maior escala, como o Pico e a Terceira, e a Graciosa, que com menor dimensão de área cultivada tem bastante menos fama e reconhecimento. Espera-se impacientemente que São Miguel retome um pouco do relevo que já teve, pois alguns dos poucos produtores locais demo- ram em apostar em castas nativas, optando por castas estrangeiras ou por ceder a pressões de outras áreas da produção agrícola. Há ainda o caso singular de Santa Maria, com as suas ín- gremes arribas, onde muito foi feito pela natureza, algum pelo homem, mas que devido ao abandono, quase tudo falta fazer.
A C.V.R. (Comissão Vitivinícola Regional) dos Açores tem primado por fazer uma boa pro- moção dos vinhos açorianos, mas não con- seguiu ainda agregar (ou convencer) todos os produtores a obedecer, palavra forte mas necessária, a um conjunto de regras que, sem dúvida, fortaleceria toda esta família. Há que continuar o esforço…

Na prova cega, ainda antes de apurados os resultados, os cerca de 30 participantes, en- tre alguns dos nossos provadores habituais, alguns dos principais produtores e outros amantes do vinho, foi possível perceber, de imediato, duas diferenças em relação ao ano passado: os vinhos, apresentaram-se muito mais evoluídos de cor e aroma (muitos de-les foram repetições, outros edições mais recentes mas que ainda assim nos deram alguns sintomas evolutivos), que se nalguns casos não se traduziu numa prova “em fim de vida”, noutros isso foi mais notório, com des- taque negativo para alguns da Terceira e um ou outro do Pico; por outro lado, sentiu-se uma certa “maturidade” nos vinhos, que, no geral, deram uma prova mais capaz e entu- siasmante, que se reflectiu, invariavelmente, nas pontuações que foram surgindo (o es- paço pontual entre uns, com “maturidade” e outros, “evoluídos”, foi significativo).

Depois dos resultados, podemos tecer al- gumas considerações importantes: os dois primeiros vinhos são novidade, feitos na Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico, que desde o ano passado tem, como “cabeça de cartaz” na enologia, Bernardo Cabral; ambos são monovarietais, tendo o Terrantez (casta que escasseia em qualquer das ilhas) con- quistado a atenção de todos, o que muito contribuiu para o segundo lugar final (no ano passado os vinhos com esta casta não bri- lharam de forma alguma, por serem dema- siado perfumados e florais); por outro lado, o Verdelho não conseguiu as boas presta- ções da primeira edição, mas ainda assim é

um vinho que consegue aliar algum volume e peso na boca com uma boa acidez e está omnipresente em practicamente todos os lotes; mesmo a maioria dos monovarietais são feitos com estas uvas, o que diz bem da sua implantação nas diversas ilhas; apenas a notória evolução de algumas garrafas terão penalizado alguns dos vinhos presentes fei- tos com esta casta.

A Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico e o seu Arinto dos Açores (casta que, como nos foi explicado no início, pelo Paulo Machado, um dos enólogos da Azores Wine Company, não teve sorte no nome, pois nada terá a ver com a homónima existente no continente) foram os grandes vencedores desta prova. Destacamos o Arinto dos Açores, não só por ter ocupado justamente o primeiro lugar, algo destacado, mas porque todos os vinhos desta casta em prova se apresentaram finos, elegantes, cheios de frescura, numa forma excepcional, caracterizando aquilo que nos Açores é realmente diferenciador: o solo, o clima e a proximidade ao mar.

É de realçar ainda o terceiro posto ocupado pelo Verdelho e Arinto dos Açores 2014 da Curral Atlantis, com a curiosidade de ter sido um dos vinhos mais antigo em prova, ainda

assim com grande potencial para se manter “em forma” por mais alguns anos.
Voltando à pergunta inicial: será que estes vi- nhos já estão no patamar que se prognostica e deseja?

Se não estão, caminham a passos largos. Ain- da faltará alguma consistência, que só o pas- sar dos anos e das várias colheitas nos darão. Esta “maturidade” observada, tem sido conse- guida, não só através de uma maior atenção e esforço empreendido pelos produtores locais, mas também, graças à importantíssima inter- ferência de uma nova geração de enólogos do continente, que não conseguiram resistir ao chamamento que esta paisagem e estas características souberam despertar.

No final, foram entregues diplomas aos três primeiros classificados, mas a nossa verda- deira satisfação foi, a de mais uma vez termos conseguido reunir – pelo primeiro ano a prova decorreu dentro do recinto do Wine in Azores, graças ao apoio incondicional do Joaquim Coutinho Costa, mentor e organizador deste evento desde o primeiro momento – todos estes magníficos vinhos, que nos apaixonam e nos “obrigam” a dá-los a conhecer a quem tanto gosta de provar e saber vinho. Voltaremos, claro!

Texto escrito por Carlos Ramos e publicado na Revista Paixão pelo Vinho nº73

Vencedores Prova Cega Wine in Azores 2018
Categorias Eventos, Provas Cegas

Acerca

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Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.

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