Prova Cega da casta Loureiro, a 04.06.2022

Prova Cega da casta Loureiro, a 04.06.2022

Havia já muito tempo que ponderávamos colocar a casta Loureiro em prova cega. Esta pareceu-nos ser a altura certa. E porquê?

Esta casta, muito produtiva, entrando quase sempre em lotes com Arinto (Pedernã) e/ou Trajadura, nunca foi tão bem trabalhada quanto agora. Em vez de grandes produções, têm-se feito mondas mais rigorosas, quer em verde, quer já em cacho e o resultado é visível. Menor produção, normalmente origina melhor qualidade.

Temos, hoje, vinhos mono-varietais de Loureiro com uma fruta mais pura, mais frescos e minerais, mais afinados e precisos, de maiores complexidade e estrutura.

Esta é uma das mais exuberantes castas nacionais em termos de aroma, exultando notas herbáceas de louro e da árvore que lhe dá o nome; também tília, acácia e jasmim, lima e limão, maçã verde e alperce; com maior maturação e/ou evolução em garrafa, mel e cera de abelha podem começar a aparecer, mas tudo sempre “embalado” por belíssimas acidez e mineralidade.

O recurso à barrica parece ser uma boa aposta e o uso do inox continua a dar óptimos exemplares.

Foi, então, com enorme expectativa que realizámos esta prova, seguros que a criteriosa escolha feita, ajudada pelo cada vez maior empenho dos produtores, nos traria ao palato algo que seria praticamente impossível há uns anos: 15 Loureiros de grande qualidade, muitos deles inesquecíveis, prevíamos.

Primeiro foram provados os vinhos com estágio em inox e depois os com estágio em barrica. Não misturando os perfis, temos 4 tabelas de resultados: Top 5 de Norte e Sul sem barrica; Top 5 Norte e Sul com barrica:

Anselmo Mendes, mais conhecido como “Senhor Alvarinho”, pode receber agora o epíteto “Senhor Alvareiro” ou, se preferirem, “Senhor Lourinho”, tal foi o consenso que reuniu a Norte e Sul, dominando os resultados dos Loureiro com estágio em inox. Este LOUREIRO PRIVATE 2020 estagiou 9 meses, com bâtonnage regular nos depósitos onde fermentou e, posteriormente, durante 1 ano, em garrafa.

Foi curiosa a renhidíssima competição a Norte, com pontuações próximas e 3 vinhos a partilhar o 4º lugar. São diferentes os estilos, tendo alguns baixa intervenção como o Aphros Phaunus e o Quinta da Palmirinha e outros um estilo mais clássico como o Terrunho, Quinta da Aveleda e Soalheiro.

A Sul, a competição foi menos renhida, com a curiosidade dos dois vinhos que ficaram em 2º lugar, Quinta de Tamariz e Ameal, não figurarem no Top 5 do Norte. Por isso, por vezes não se pode dizer que um vinho é melhor que outro, mas sim que os diferentes estilos podem agradar mais a um tipo de consumidor que a outro. E, obviamente, há sempre os mais consensuais.

O grande vencedor a Norte dos vinhos com estágio em barrica foi o QUINTA DE SANTIAGO CISMA OU OBSTINADOS 2019, um vinho desconcertante com a mão do sagaz Pedro Coelho (Pormenor Vinhos) e da, cada vez mais bela produtora, Joana Santiago, vinho que, após maceração de 12 horas, fermenta de forma natural e estagia 50% em cuba (com borras finas) e 50% em barrica (com borras totais).

Em Lisboa, nos vinhos com estágio em barrica, a vitória sorriu “barbaçalmente” ao PEQUENOS REBENTOS LOUREIRO VINHAS VELHAS 2020 do talentoso Márcio Lopes; este é um vinho fermentado em barricas usadas provenientes de Puligny-Montrachet, e sujeito a subsequente estágio de cerca de 6 meses, com recurso a bâtonnage.

Merece igualmente destaque pela elevada média obtida e o entusiasmante segundo lugar a Norte e a Sul, nos vinhos com estágio em barrica, o QUINTA DO AMEAL RESERVA 2019, um Loureiro com fermentação e estágio em barricas, com bâtonnage durante 6 meses, que dispensa apresentações, mas que sempre concentra atenções.

Também se percebe que os vinhos com madeira tiveram médias superiores aos vinhos sem madeira, o que quer dizer que a casta Loureiro pode ser mais apetecível neste estilo, com madeira de boa qualidade. Todos eles são belíssimos Loureiros e poderão, provavelmente, melhorar com o passar dos anos, permitindo uma melhor integração da barrica…

Concluindo, a casta Loureiro, tem finalmente o destaque que merece!

Todos os produtores estão de parabéns porque é com o abnegado esforço deles que todos nós, sortudos consumidores, somos mimados com vinhos cada vez mais surpreendentes e de cada vez mais (impossível não repetir) inegável qualidade.

Foi uma prova verdadeiramente inesquecível!

Texto: Carlos Ramos

Fotografia: Carlos Figueiredo

Categorias Provas Cegas

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Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.