Val Moreira

Val Moreira

Por entre carrinhas de empreiteiros acelerados e turistas indiferentes a pandemias mas não a paisagens, seguimos pela EN222, desde a Régua em direcção ao Pinhão. É ali, quando o Tedo encontra o Douro, naquela última “chicane” de água digna de um circuito de corridas que começamos a subir, até nos depararmos com a Quinta do Carril em frente, mesmo antes da Quinta de Nápoles, onde precisamente surgiu pela primeira vez a curiosidade de saber o que era aquela Quinta do Val Moreira, que veio mais tarde a ser efectivamente adquirida por Jorge Rebelo de Andrade, do grupo Vila Galé. A ideia era não só implementar uma unidade de agro-turismo neste troço mais emblemático do Douro, mas também a de se fazerem vinhos em nome próprio com o património vitivinícola já existente nesta propriedade, que até ali apenas se dedicara à venda de uvas a granel.

Se o Vila Galé Douro Vineyards, classificado como Turismo Rural e constituído por uma série de pequenos blocos encaixados nos socalcos da quinta, foi o pretexto para fazer acontecer o projecto Val Moreira, a vontade era a de criar desde o início um grupo de trabalho que fosse ajustado à qualidade do sítio, e daí o nascimento da X Vinhos, liderada por António Parente (Quinta de S. Sebastião) e Jorge Rebelo de Andrade, que decidiram juntar uma ambiciosa equipa de enólogos: Bernardo Cabral, Filipe Sevinate Pinto e Ricardo Gomes (enólogo residente, já com trabalho feito na Niepoort e Maria Izabel), com Márcio Cardoso, um exímio conhecedor do terreno, do vizinho Lugar do Marmelal, na viticultura.

A ideia era a de valorizar as parcelas existentes na quinta, algumas velhas, acrescentando outras que trouxessem frescura e acidez a estes vinhos, e daí o recurso a vinhas velhas das zonas de Armamar e da Mêda, vinificadas em separado e depois juntas através de longos debates entre estes três enólogos. Matéria prima e “massa cinzenta” em sintonia, e os vinhos deixam-nos com essa boa sensação de qualidade e “algo mais” que o Douro tem e terá sempre para dar. É só descobrir…

Os entradas de gama são os Val Moreira, branco 2019 (também provámos o 2018, que ainda se encontra à venda) e tinto 2018. eu preferi o branco, feito com Viosinho, Arinto e Alvarinho, muito acutilante (pH 3,14), com apenas um ligeiro calor doce residual, e uma pequena porção do lote estagiária em barricas. muito versátil e viciante. O tinto já tem uma nota mais madura, com os taninos ainda no comando, mas está bem (só com castas da quinta, Franca, Barroca, Sousão, Tinta Amarela e Tinto Cão). Seguem-se os Reserva branco 2019 e tinto 2018. Aqui destaco o bom controlo de barrica que é nota dominante em todos os vinhos, parece haver uma procura de elegância sem obsessão, deixando as castas “intrometerem-se” entre si, numa aproximação menos científica e mais de intuição. O branco é proveniente de vinhas velhas da Mêda e cresceu em 5 barricas de 500L de carvalho francês. A acidez é novamente elevada e a madeira deixa-se apreciar mais no nariz que na boca, resultando mais estreito do que volumoso, sem por isso perder o vigor. O tinto tem uma cor mais aberta, o aroma é discreto/fechado, e deve evoluir bem. para finalizar (isto nos tranquilos, pois ainda têm Portos no portefólio, que não são feitos na quinta) há ainda o Altitude, um vinho peculiar feito de uma única vinha muito velha da Mêda, com 80% de uvas tintas e 20% de uvas brancas, situada a 734 mts de altitude (daí o nome). Aqui subimos também em termos de complexidade e diversidade de impressões, pois temos uma cronologia de pequenos efeitos que depois se fecham num todo: uma parte vegetal seguida de fruta fresca, depois a acidez e ainda uma área onde tudo se volatiliza e nos faz voltar ao início.

É muito bom e melhor ainda será conhecê-los a todos, quando lá passarem (porque ainda não estão disponíveis no mercado…).

Categorias Artigos de Opinião
Tags: douro, valmoreira

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Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.