Espumantes de Pinot Noir e Chardonnay por Miguel Araújo

Espumantes de Pinot Noir e Chardonnay por Miguel Araújo

Na senda das provas anteriores, reunimo-nos, desta vez, para provar espumantes feitos a partir de blends de Pinot Noir e Chardonnay, a fórmula mágica de Champagne. Os requisitos eram simples, todos os espumantes deveriam ser feitos através do método clássico e todos deveriam ser feitos a partir dessas duas castas. A ordem de serviço foi aleatória e a prova cega para todos, sendo que apenas eu conhecia os espumantes que estavam em prova (ainda que os tenha provado às cegas).

A prova havia sido idealizada para a comemoração dos meus 40 anos, algo que a COVID-19 não permitiu, pelo que a ansiedade era grande…

Começámos às claras, com o espumante da Real Companhia Velha de 2015 para afinar as agulhas das classificações – bolha fina e nariz a revelar notas cítricas e um discreto biscoito. Na boca, muita frescura e uma agradável mousse terminando languidamente com um final mais vinoso.

Seguimos de imediato para o primeiro vinho da prova – o Campolargo Borga 2013. O nariz mostrava algumas notas de maçã assada, notas essa que se revelavam mais intensamente na boca, mousse interessante e uma acidez imponente marcavam a prova onde timidamente se mostravam algumas notas de pstelaria. O fim médio/longo num espumante que cumpria mas não entusiasmou os presentes.

Prosseguimos para o segundo vinho, o Graham Beck Cuvée Clive 2011, um espumante sul-africano de grande fama. Muito ao estilo champanhês, com bolha fina e nariz pleno de pastelaria. Na boca, mousse envolvente e acidez afinada, num conjunto de grande elegância. Um excelente espumante, que pelo seu perfil, muitos apontaram como sendo um champagne.

O terceiro vinho – o Bellavista Riserva Vittorio Moretti 2008 – levou-nos a Itália, à região de franciacorta, a referência italiana para os espumantes feitos através do método clássico, mas que, nestas nossas provas, têm-se revelado uma desilusão. Não obstante a expectativa que tinha para este, foi claramente o espumante menos conseguido em prova. A exuberância do nariz, onde se destacavam as intensas notas de pastelaria, traduziam-se, na boca, em alguma sensação de doçura, num espumante pouco fresco e algo cansado. Foi, unanimemente, o espumante menos apreciado na prova.

Em quarto lugar surgiu o segundo português – Murganheira millésime 2008 – um espumante nacional de classe mundial e o preferido de alguns dos provadores, que não hesitaram em afirmar que se tratava de um champagne. Nariz delicado a revelar inicialmente notas cítricas que desvaneciam para dar lugar àquelas de pastelaria, algo que continuava na boca, onde a delicada perlage se encarregava de dispersar esta festa organoléptica pelo palato…o fim revelava frutos secos e prolongava-se até ao golo seguinte… um grande espumante!

Seguiu-se o quinto espumante em prova e o primeiro champagne da tarde – o Veuve Clicquot La Grande Dame 2006 –  de grande elegância, com o nariz marcado pelo brioche e algumas notas amanteigadas. Na boca, uma delicadíssima mousse salientava a sua enorme frescura e desaguava numa festa de frutos secos que teimosamente permaneciam no palato… poucos foram aqueles que não apontaram imediatamente para Champagne.

O sexto vinho – o Maria Valduga MMXII – foi a maior desilusão da prova, não que o TCA não possa acontecer a qualquer um, mas, desde o brilharete na prova de Blanc de Blancs com o seu Chardonnay, esta é a segunda prova consecutiva com espumantes da Casa Valduga contaminados com TCA, o que nos desencoraja a arriscar mais alguma garrafa.

Prosseguiu-se assim na prova até ao sétimo vinho, o Paul Josselin Cuvée Prestige, um champagne que surge nesta lista não como os restantes, pelo seu renome mundial, mas pelo valor afectivo de ter sido o meu primeiro champagne, trazido de um pequeníssimo produtor de champagne pelo meu amigo Sérgio e que durante anos foi a minha referência nas bolhinhas… Na prova revelou-se elegante e equilibrado, com um nariz interessante, a mostrar sobretudo notas de padaria. Na boca saliento uma boa mousse e as notas de café, num perfil menos fresco que os restantes champagnes em prova, algo que o poderá ter prejudicado na classificação, tendo em conta o perfil dos provadores. Ainda assim, não desiludiu, mostrando que é possível beber champagnes de qualidade sem entrar na exorbitância de preços de alguns…

O oitavo vinho veio de Espanha, o Codroníu ARS Collecta 457 Gran Reserva 2008. Com os pergaminhos de ser um dos melhores espumantes do país vizinho, e um dos vinhos mais caros em prova, confesso que esperava algo mais, apesar de ter sido o provador que melhor o classificou. Nariz e boca marcados pelas notas cítricas e uma grande acidez eram as notas mais evidentes, num espumante de elevadíssima qualidade mas que, diria, não de classe mundial como outros em prova…

Iniciando a recta final, provámos o nono vinho, nada mais que o Pol Roger Cuvée Winston Churchill 2006,para mim, o melhor espumante em prova, representando exactamente o que me vem à cabeça quando penso em champagne. O perfume do nariz, onde as notas de pastelaria se misturam harmoniosamente com nuances cítricas, seduzindo-nos irresistivelmente à prova. A boca, onde a delicada mousse leva aos mais recônditos locais do palato o brioche, os frutos secos e a frescura cítrica, como que guiados por uma acidez que, de tão notável, mal se dá por ela… O fim, esse, é mais um recomeço, pois as sensações permanecem no palato até ao gole seguinte… Um grande champagne.

O décimo e penúltimo vinho veio de Inglaterra, o Nyetimber Tillington Single Vineyard 2013. Num perfil muito champanhês, tudo nele é equilíbrio, não havendo arestas mas também não havendo rasgo, tendo agradado sobremaneira a alguns dos provadores e deixado outros mais indiferentes.

Por fim, o décimo primeiro e primeiro classificado da prova, o Palmer & Co Vintage 2008, talvez beneficiando de se tratar do único champagne em prova desse grande ano que foi o ano de 2008, em Champagne. Com um nariz rico de onde saliento as notas amanteigadas, na boca mantinha o equilíbrio, mostrando inicialmente as notas de pastelaria que iam dando lugar às notas cítricas acabando nos frutos secos que teimavam em manter-se no palato. Uma semi-surpresa, batendo, no global, os pesos pesados da região que se encontravam em prova…

Uma grande prova, onde os champagnes mostraram toda a sua força, pelo menos quando jogam em casa, competindo com espumantes de outras latitudes elaborados através das suas castas… fica a curiosidade se esta superioridade se mantém tão evidente numa prova sem restrições de castas…

Após a prova seguiu-se um jantar fantástico em que o nível manteve-se muito elevado, que grande dia!

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