Prova cega de Arinto (2022)

Prova cega de Arinto (2022)

Foi com grande entusiasmo o regresso a provas mais extensas. Uma espécie de maratona vínica. Os novatos nessas andanças chegam ao fim mais cansados, mas igualmente deliciados. Entre amigos, a verdade científica das classificações (!?) ficou completamente adulterada. Certamente não foi pelas classificações a prova se realizou. A prova é o motivo e não o fim em si. A prova de Arinto foi móbil para juntar perto de 15 pessoas horas à volta da mesma mesa, partilhar histórias, opiniões, divergências, apreciar uns pratos regionais e beber vinhos. Daí que os resultados da prova devam ser olhados apenas de relance, sem a importância que as medalhas ou uma nota numa revista transparecem possuir… e possuem.

Arinto é a segunda casta branca mais plantada de Portugal. Reconhecidamente uma das mais valiosas do nosso património vitícola único. Mais utilizada em lote do que em extreme, é uma casta que marca o vinho pela sua acidez, aromas contidos e sabores cítricos, associados a grande mineralidade por vezes com sensação de cereal e vegetal, evoluindo, nos espécimes mais maduros, para notas de mel e frutos secos. É reconhecida pelo elevado potencial de guarda.

A prova contou com onze provadores, foi realizada a 26/03/2022, utilizada a escala de 0-20 e contou com a presença de alguns dos mais prestigiados arintos nacionais.

Em ambiente de aquecimento pré-prova foram abertos dois espumantes Quinta do Boição Arinto Reserva Bruto, um de 2008 e outro de 2007. O primeiro bastante evoluído, ao contrário do 2007 ainda a dar boa prova.

resultados da prova

Apesar do carácter lúdico, há sempre lugar a aprendizagens. Seguem-se algumas que ficaram – todas elas sujeitas a contraditório.

A casta não atinge nível de complexidade que transporte o vinho para patamares de excelência mundial, digamos assim. Mesmo assim é muito boa naquilo que possui: excelente acidez, pureza da fruta e foco. Percebe-se, por aqui, o seu uso em lote em detrimento do engarrafamento em extreme.

O uso mais pronunciado da barrica como elemento potenciador de complexidade, só por si não parece ter impressionado os provadores. Os vinhos que tinham maior influência deste elemento, não sobressaíram na prova.

Os quatro primeiros classificados estavam num patamar muito bom, ao contrário de alguns dos últimos classificados, os quais foram desilusões para os provadores presentes.

Depois outros reparos mais particulares relacionados com os quatro vinhos melhor pontuados em prova:

– O Vale da Capucha 2017, um vinho biológico, ganhou a prova. Note-se que não haviam “freaks do bio” na prova, pelo contrário. Belo vinho;

– O Quinta da Massorra Reserva 2017, um vinho da zona mais a sul da região dos Vinhos Verdes, apresentou alguma redução inicial. Se poderíamos ser levados a pensar que esse facto o poderia prejudicar, revelou-se ao contrário: vários provadores valorizaram a sua evolução positiva no copo. Alguma complexidade e acidez elevada foram alguns dos atributos que levaram este vinho ao 2º lugar;

– A de Arinto 2019, um vinho do Douro, muito equilibrado, talvez o mais consensual de entre os primeiros. Um excelente 3º lugar;

– Mira 2017, um Bucelas cheio de nervo. Acidez em níveis elevados, mineralidade e frescura. Um vinho que parece ter sido engarrafado há pouco tempo. Óbvia capacidade de se tornar um ótimo vinho de guarda. Não recomendado a provadores menos amantes de emoções fortes.

No final houve lugar a jantar com a abertura de alguns tintos e de um porto Seara d’ Ordens LBV 2008 que remataram a noite com brilhantismo.

Uma prova didática e com bons momentos. A repetir, sem dúvida.

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