A Adega do Vulcão é um dos recentes projetos que têm atraído atenções para os Açores, colocando esta região no mapa dos brancos mais interessantes a nivel nacional. Estivemos à conversa com Rodolfo Silva, um dos seus proprietários.
(CpP): Atualmente qual o tamanho das vinhas, localização e quais as suas castas?
A Adega do Vulcão é um projeto vitivinícola recente, que tem por objetivo produzir vinhos brancos de elevada qualidade a partir de spot`s específicos nas ilhas dos Açores, neste momento o projeto desenvolve-se nas ilhas do Faial e Pico.
As vinhas na ilha do Faial são plantadas na magnifica paisagem do Vulcão dos Capelinhos, cuja erupção ocorreu à 62 anos. Já na ilha do Pico as vinhas velhas encontram-se no coração da Paisagem Património Mundial plantadas nas fendas das lajes e entre os currais de basalto.
No Faial junto ao Vulcão dos Capelinhos temos 7 ha de vinha aramada em modo de produção orgânico e na ilha do Pico adquirimos uvas de cerca de 3 ha de vinhas velhas em currais no Lajido da Criação Velha.
Os nossos vinhos são o resultado de uvas de castas autóctones, Arinto dos Açores, Verdelho e Terrantez do Pico.
(CpP): Como defines o terroir dos vinhos produzidos pela Adega do Vulcão?
Os nossos vinhos são o resultado de uvas autóctones produzidas a partir de solos com personalidades únicas e opostas, entre cinzas vulcânicas dos Capelinhos e o manto basáltico do Lajido da Criação Velha, unidos pela intensa influência do Atlântico Norte, resultando num palato vibrante e de marcada mineralidade, onde as notas de pólvora são evidentes, traduz-se num produto final que representa genuinamente as características do local, que são fantásticas!
(CpP): Quais os vinhos que são produzidos na Adega do Vulcão?
Em 2019 foram lançados os dois primeiros vinhos o AMEIXÂMBAR e o ROLA-PIPA.
Ambos vinhos brancos certificados o Ameixâmbar 2018 – Colheita Selecionada IG Açores – Arinto-dos-Açores produzido a partir das cinza vulcânicas da recente erupção do vulcão dos Capelinhos em conjunto, com os lajidos da Criação Velha da Ilha do Pico, o que lhe confere um equilíbrio singular. Este vinho foi fermentado e envelhecido em cimento com estágio de 4 meses em túnel de madeira de carvalho francês, encontra-se engarrafado à cerca de 6 meses.
O
Rola-Pipa 2017 – Reserva DO PICO – Arinto-dos-Açores produzido a partir dos lajidos da Criação Velha
com vinhas velhas, entre os 70 a 80 anos de idade, castas autóctones,
são vinhas de muito baixa produtividade, todo o trabalho é efetuado
manualmente. Este vinho foi objeto de uma maceração pré-fermentativa de 10
dias, sendo de seguida fermentado em cubas de cimento refrigerado com
posterior estágio nas mesmas por 18 meses, estágio em garrafa de 6 meses.
(CpP): Com qual deles te identificas mais? E porquê?
Sinceramente acho que são vinhos para momentos diferentes. Nesta fase e se fosse obrigado a escolher diria o Ameixâmbar.
(CpP): Como foi a vossa vindima de 2019? O que devemos prever a nível de vinhos?
No primeiro ano a Adega do Vulcão engarrafou cerca de 4 000 garrafas. Neste momento estamos a preparar o lançamento dos nossos próximos vinhos, em 2020, com uma estimativa de cerca de mais 6000 garrafas. O ano de 2019 não foi um ano espetacular e memorável como o de 2018, no entanto pretendemos não desiludir, embora neste momento e face as espectativas[DCL1] elevadas por parte de quem teve a possibilidade de provar temos alguma pressão.
(CpP): Haverá novidades da Adega do Vulcão para 2020?
Sim contamos em ter pelo menos mais uma referência e lançar em 2020, três vinhos brancos certificados de 2018 e 2019, mas estamos numa fase de incertezas com todo os problemas que surgiram e irão surgir com a situação do coronavírus.
(CpP): Como prevês o futuro dos vinhos dos Açores?
Considero que estamos ainda numa fase inicial, o potencial é muito grande, embora em parte a viticultura seja difícil, devido as nossas condições climatéricas, consideradas marginais para a vinha, mas ao mesmo tempo é isso que nos diferencia em termos vinícolas.
Em termos de mercado local e devido a um conjunto diversificado de situações o preço da uva é elevado, o que condiciona de base o preço dos vinhos, o que poderá ser sustentável, mas para isso é necessário que exista qualidade de toda a cadeia. Neste momento existem várias empresas vitivinícolas consolidadas no mercado regional e com bons produtos e reconhecidos em termos nacionais e internacionais, aliados a vários enólogos de referência nacional e internacional a trabalhar nos Açores, o que demonstra o potencial que existe.
(CpP): O que achas de toda esta recente polémica acerca do suposto uso de glifosato nos vinhos açorianos?
Penso que a polémica é algo que tem potencial de venda em termos de comunicação e neste caso a realidade não foi caraterizada convenientemente, embora tenhamos todos que caminhar para algo diferente, esta polémica não faz jus a realidade.
(CpP): Achas que há uma nova geração de enólogos e viticultores que estão a impulsionar o crescimento dos vinhos dos Açores em qualidade e em quantidade?
Sim sem dúvida, acho que o caminho percorrido já tem algumas décadas e com um conjunto vasto de pessoas responsáveis pelo reconhecimento atual, no entanto temos que destacar o investimento do governo regional, bem como a persistência e a inovação da Cooperativa vinícola do Pico ao longo de décadas, recentemente o grande trabalho efetuado pelo Eng. Paulo Machado e seus sócios, onde consta o enólogo António Maçanita que catapultou a internacionalização e imagem dos vinhos brancos dos Açores para uma posição de referência.
(CpP): Qual o teu vinho açoriano preferido sem ser os da Adega do Vulcão? E nacional?
Em relação aos vinhos dos Açores certificados que neste momento estão no mercado considero que todos tem qualidade e prefiro não escolher.
Em termos nacionais e internacionais tenho preferência por vinhos de colheitas pequenas e com personalidade. É difícil enumerar um vinho ou um enólogo…mas dos mais recentes que provei e apreciei imenso …vinhos de Filipa Pato e Luis Seabra.
Em termos de balanço geral a aceitação dos vinhos da Adega do Vulcão tem superado todas as nossas espectativas, é o que mais nos tem entusiasmado é a reação das pessoas, têm sido inesperadas e excelentes! É interessante e gratificante perceber que houve um envolvimento das pessoas com interesse em adquirir, oferecer e recomendar o nosso produto. Estamos muito contentes e gratos, este é sem dúvida o melhor resultado que poderíamos esperar. Também da parte dos profissionais da área, enólogos, sommeliers, jornalistas da especialidade e dos críticos, os comentários e aceitação têm sido fantásticos, tanto a nível nacional como internacional.