Prova dos 43 anos do Duarte

Prova dos 43 anos do Duarte

No domingo realizei a minha prova de aniversário (43) com alguns dos meus amigos, em que cada um trouxe uma garrafa e eu coloquei as restantes. Pretendia-se vinhos muito bons que estivessem no topo da sua evolução ou perto do topo e por isso, para os brancos foi definida a colheita de 2015 e para os tintos, a colheita de 2010. Todos os vinhos foram embrulhados em papel de aluminio, a ordem foi efetuada sorte e depois todos os vinhos foram servidos em decantadores, mesmo os brancos para minimizar o risco de alguém saber que vinho era. Os únicos servidos às claras foram os vinhos 0 de cada grupo (Xistos Altos e Monte Cascas Vinha das Cardosas) para preparar o palato e afinar as pontuações. De referir que quem quisesse podia ter decantado previamente os vinhos tintos e depois te-los colocado novamente na garrafa (acho que todos o fizeram porque a maior parte deles era muito poderoso pelo que precisavam de amaciar os taninos, algo que a oxigenação ajuda muito).

Antes de falar nos vencedores, é preciso perceber que o grupo era bastante diverso mas em que a grande maioria valoriza vinhos frescos, secos e onde o álcool não se evidencie. Também para vários, o nível de madeira que gostam nos vinhos é baixa, outros suportam níveis mais elevados desde que esteja bem integrada. Outros gostos variavam ainda mais, uns gostam mais de vinhos com pouco corpo ou outros mais encorpados, uns mais tolerantes a pequenos defeitos do que outros, com tolerância zero. Por isso, os resultados evidenciam este perfil, em que apenas o Parcela Única, o grande vencedor, foi completamente consensual. 

Nos Brancos, o único que se destacou foi o Parcela Única, que estava perfeito, com acidez, mineralidade e muito longo, grande classe com um equilibrio notável.Nos outros a diferença nas pontuações era pequena principalmente entte o 5 e o 10 classificado, sempre menos de um décima sendo que entre estes dois foi apenas de 0,25.

Como curiosidade, os dois brancos primeiros classificados são de alvarinho e sob a orientação do Anselmo Mendes, o PU da sub região de Monção e Melgaço e o maravilhoso Kompassus da Bairrada. A seguir ficou o Quinta de Mouro Erro B, um vinho alentejano de curtimenta com elevada acidez que por acaso quase todos gostaram mas não é um vinho fácil. Em quarto lugar ficou o Guru, que é um vinho leve com uma acidez equilibrada e a madeira pouco notória e muito bem integrada (quem gostar de mais madeira deve o beber em novo mas quem não gostar, só tem de o deixar uns anos).

No que se refere aos tintos aconteceu também uma coisa muito curiosa que foi os dois primeiros classificados são Bairradas com Baga, em que o segundo classificado foi o vinho zero (Monte Cascas Vinha das Cardosas) a curta distância do vencedor o Messias Garrafeira. Estes são vinhos poderosos, frescos com um final muito prolongado, em que o Messias tem os taninos um pouco mais polidos e o Monte Cascas tem mais frescura só prejudicado por um ligeiro volátil.

Os outros tintos, com a exceção do último classificado, estão separados por curta distância, mostrando que a competição foi renhida. Queria referir que mesmo o último, o Pintia 2010 é um grande vinho de Toro, mas que como a maior parte do painel valoriza a frescura foi prejudicado por ser o menos fresco, mas mesmo assim, tem uma acidez média, só não é suficiente para contrabalançar os 15º e o corpo poderoso que tem, mas quem não for tão exigente ao nível da frescura, vai gostar dele pois é poderoso e ainda assim, com taninos polidos.

O terceiro classificado, La Rioja Alta Gran Reserva 904, era um Rioja um pouco atípico pois parecia um pouco mais evoluído do que os restantes vinhos com um corpo médio, bem fresco, com taninos polidos e final longo (tem pontuações impressionante por críticos como RP 96+ e J. Suckling 98). O quarto classificado, Fata Garrafeira Conde de Vilar Seco, apesar do ligeiro Brett que tinha, era um Dão fresco mas com acidez equilibrada, taninos de seda e final longo. O quinta classificado, Icon de Azamor, é um alentejano poderoso com taninos mais notórios, fresco e muito longo e era um dos poucos onde a barrica era notória.

Nos vinhos de sobremesa destacou o JJ Prum Bernkasteler Badstube Auslese, um riesling doce mas com uma acidez muito elevada fez as delicias dos presentes e que a maior parte preferiu a um clássico que adoro, o Barbeito Boal 10 anos, em que ambos acompanharam de forma maravilhosa a tarte de frutos vermelhos e a tarte de limão.

Nos espumantes muito apesar de preferir o Vértice Gouveio desta vez não teve hipótese porque tinha um ligeiro TCA que o prejudicava e retirava o grande prazer que geralmente dá e por isso o Murganheira Chardonnay 2010 reinou sozinho.

Ainda se provaram dois vinhos do João Cabral de Almeida que ainda não sairam para o mercado. No final dos brancos provamos o Musgo Branco 2018, um vinho do Dão com um aroma um pouco exuberante e a dar uma sensação doce que na boca era mais contida pela boa acidez que tinha, é um vinho que ainda precisa de mais algum tempo para afinar. No final dos tintos provamos o Omnia 2015 que é um Douro guloso mas fresco com taninos redondos e já dá boa prova pelo que não deve faltar muito para o seu lançamento.

Para acabar, provamos dois vinhos que adoro, o Pequenos Rebentos Alvarinho à Moda Antiga 2015, que se não fosse já estar em prova dois grandes vinhos verdes de alvarinhos, este estaria certamente e não faria má figura, dada a sua grande qualidade e o Vinha Pan 2015, um vinho da nova geração de Bagas, apesar de feito por um dos produtores clássicos da Bairrada (Luís Pato) que é delicioso com aroma fabuloso e uma boca ao mesmo nível, já bem polido, fresco e muito apetecível.

Categorias Artigos de Opinião
Tags: brancos

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