Prova Tinta Roriz, Tempranillo, Aragonês – Quinta do Silval, 22 Junho 2019

Prova Tinta Roriz, Tempranillo, Aragonês – Quinta do Silval, 22 Junho 2019

Logo após uma fantástica prova cega de varietais Touriga Franca, aqui há uns anos, pensei imediatamente no quão interessante seria fazer uma prova análoga, desta vez com aquela que é a casta ibérica por excelência. Conhecida no Douro e Dão por Tinta Roriz, no Alentejo e Algarve como Aragonês e na Península de Setúbal como Tinta Santiago. Na Rioja, onde alegadamente teve origem, é conhecida como Tempranillo, nome usado pela maior parte dos produtores do novo mundo que a utilizam, mas cada região espanhola tem a sua designação, reflexo de uma antiguidade ancestral e utilização generalizada por todo o território.   

O método de selecção dos vinhos não obedeceu a nenhum critério para além de o de serem feitos exclusivamente daquela casta. Alguns eram de gama alta, outros nem por isso. Alguns eram de colheitas dos anos de 1990, outros, os mais recentes, de 2017. O objectivo era conhecer a casta em todas as suas dimensões, a sua expressão nos diferentes “terroirs” e, em alguns casos, o seu potencial de envelhecimento. Todas as regiões portuguesas que produzem ou produziram varietais desta casta estavam representadas e tivemos ainda alguns exemplares espanhóis.

Ainda antes da prova propriamente dita, tivemos a oportunidade de beber, como welcome drink, o Murganheira Cuvée Especial 2006, um blanc de noirs feito exclusivamente de Tinta Roriz.  Muito fresco, com o nariz algo tímido a mostrar frutos secos e maçã assada. Na boca, enche-nos o palato com uma bolha fina e uma mousse delicada, desvendando, à medida que se dissipa, alguma panificação e a fruta seca que havíamos sentido no nariz. O fim, seco e longo, estende-se até ao gole seguinte compondo um conjunto de enorme elegância e harmonia… Um excelente espumante, muito fresco, apesar dos mais de dez anos que já tem e a mostrar o potencial desta casta para este tipo de vinho. 

Após o espumante, tivemos ainda a oportunidade de provar, ainda às claras, um branco elaborado 100% por tempranillo blanco, uma casta de uvas brancas que resultou de uma mutação espontânea de tempranillo, em 1988, na Rioja, e que desde 2007 é aceite como casta branca autóctone desta região. O vinho era fresco, de nariz muito tímido e aromas discretos. Acidez e fim médios. Uma agradável mas pouco impressionante experiência que precedeu a prova cega.

A prova cega propriamente dita iniciou-se de seguida. Vinte e quatro vinhos, todos oriundos da Península Ibérica, vinte portugueses e quatro espanhóis (Ribera del Duero, Rioja e Toro). Grupo heterogéneo de provadores no que diz respeito à experiência de prova, sendo que mais de metade dos mesmos eram provadores experientes, habituados a este tipo de provas. 

Todos os vinhos em bom plano, com a notável excepção do Horácio Simões Tinta Santiago 2015, traduzindo, muito provavelmente, uma má garrafa. A preferência recaiu pelo Alentejo – Esporão Canto do Zé Cruz 2013 (17,7 val de class. média) – um vinho irrepreensível e que muitos arriscaram ser espanhol. O Douro melhor classificado apaece na 4ª posição (17,2 valores de class. média) – o Dorna Velha 1999 – um vinho extraordinário, com vinte anos e mostrar ainda força para mais alguns em garrafa. A grande surpresa da prova veio, no entanto, do Algarve – Quinta da Tor Aragonês 2017 – aparecendo no 2º lugar da classificação geral (17,5 valores de class.). Os grandes derrotados da prova foram os vinhos espanhóis, muito marcados pela madeira, aparecendo o mais bem pontuado na 6ª posição – Protos Gran Reserva 1991 – Riberda del Duero – um vinho já trabalhado pelo tempo, mostrando força mas elegância e ainda alguns anos pela frente…

Se a prova cega de varietais de Touriga Franca me levou a sonhar com esta prova de Tinta Roriz/Aragonês/Tempranillo, esta prova deixou-nos com água na boca para a realização de uma segunda. Com alguns vinhos nacionais que, aleatoriamente, ficaram de fora desta e com vinhos estrangeiros de outras latitudes que não apenas Espanha… Espero, em breve, trazer mais novidades sobre essa prova.   

Texto: Miguel Araújo Abreu

Classificação Douro
Classificação Alentejo
Classificação Espanha
Classificação Geral
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Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.

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