Regateiro – Vinhos de Família

Regateiro – Vinhos de Família

Num fim de semana acalorado, os “Cegos por Provas” tiveram oportunidade de visitar a casa dos Regateiro na Bairrada. Propriedade de Casimiro Gomes, que pegando na herança que os antepassados lhe deixaram, lançou-se para mais um desafio, que apesar de não muito antigo, já envolve a ajuda da geração vindoura.


Fomos recebidos pelo anfitrião e pela enóloga Sónia Martins, num espaço muito acolhedor, onde o dia de sol veio mesmo a calhar para aproveitar a bela envolvência exterior, que se revelou o local perfeito para a primeira parte desta visita.
Foi-nos servido para início de hostilidades, o espumante Regateiro JR e o Regateiro Branco Júnior. Duas belas opções para uma animada conversa que ali se foi desenrolando e (quase) fez esquecer o tempo passar.
Os JR são uma nova linha da casa Regateiro com o intuito de dar a conhecer de uma forma mais “leve” aquilo que é o projecto Regateiro.


O espumante era um Baga/Arinto de 2019, directo, fresco, com uma bolha interessante e uma acidez a marcar a prova de boca. No entanto, é uma espumante acessível e com as características certas para acompanhar umas entradas ou então se deixar beber sozinho.
O Regateiro JR branco era um Arinto/Maria Gomes/Bical, com notas tropicais, algum floral e uma acidez muito equilibrada, que o atira para uma categoria mista do beber a solo, ou mesmo o desafiar com uma carne branca.
De assinalar uma questão essencial destes dois vinhos (e sejamos honestos de todos os vinhos do projecto) a excelente RQP que tem.
Para além dos vinhos e da excelente conversa, também estava ao nosso dispor um belíssimo queijo Serra da Estrela, bem amanteigado, que deliciou os visitantes. Viemos a saber mais tarde, que este produto é outra das bandeiras que o nosso anfitrião gosta de mostrar, sempre que pode aos seus convidados.
Numa segunda parte da visita, já dentro da adega, tínhamos à nossa frente  4 colheitas do Regateiro Reserva Tinto. 2015, 2013, 2011, 2009 para uma vertical. Estes Reservas são vinhos que a casta predominante é a Baga, apesar do “tempero” da Touriga Nacional se mostrar principalmente nas duas colheitas mais antigas.


O 2015 estava fantástico e admito desde já que foi o meu favorito(F.C). Muito potente com carniça, terroso, fruta silvestre, vegetal, iodado… Uma panóplia de sensações transmitidas por um vinho que apesar de estar numa fase fantástica e já dar uma bela prova, tenderá a evoluir e melhorar com o passar dos anos, à medida que os taninos ficarão mais polidos e macios.
O 2013 também estava num nível muito interessante, mais austero, difícil, com a sensação da carniça a marcar, um vegetal mais intenso, um fumado e tal como o anterior ainda com caminho a fazer, apesar de já começarem a surgir algumas sensações de evolução e de plenitude.
O 2011, ano que revelou um equilíbrio de qualidade muito alto em praticamente todo o país, deu na minha opinião… O Regateiro Reserva, menos interessante. Foi o vinho mais maduro e quente de todos, sem as sensações vegetais que alegravam e muito, os anteriores, e que comprovam algo que tenho verificado… 11 deu ombros largos… Já pernas…
O 2009, ano da primeira colheita da casa, revelou-se também bastante austero, aliás muito parecido com o 2013, mas com a “vantagem” de ser um vinho que está no ponto e que desconfio que mais tempo não lhe trará benefícios por aí além…
Ainda tivemos oportunidade de provar uma amostra de barrica daquilo que poderá vir a ser  o Vinha da Anita de 2020, ainda muito jovem, com o impacto que levou da barrica a amaciar um pouco e a esconder bastante aquilo que será o seu futuro… Prometemos que aguardamos por ele.
De assinalar o curioso espaço de recepção/loja, com uma entrada com o teto pejado de garrafas que criam um efeito cénico muito interessante.
Terminado este desafio, seguimos para um almoço que se revelou extraordinário.


Iscas de Leitão foi a entrada escolhida… Confesso que entranhas… Não é o meu forte… Mas ao ver a satisfação com que a rapaziada as “atacou”… diria que tiveram nota máxima. Pessoalmente… Continuei no queijo…
Para acompanhar tivemos um branco já com alguma idade, fermentado e estagiado em Inox que nos provocou os sentidos e baralhou um pouco as ideias…
Tivemos também o prazer de provar o Vinha da Anita 2015, que tal como o irmão mais novo (Reserva) se revelou um belíssimo exemplar. Vinho feito exclusivamente de Baga, mais leve e fresco do que os anteriores, mas outra vez pontuado pela carniça, terroso, fruta lá mais no fundo e uma finura surpreendente, a revelar um belo trabalho de barrica que proporciona desde já uma bela prova.


Com o fatídico leitão a chegar à mesa (que outro almoço era de esperar?) veio também o  espumante Regateiro de 2017, feito exclusivamente de Baga. Portou-se como um campeão, perante a luta dada pelo prato que estava num patamar de qualidade enormíssimo. A ligação mais que perfeita.
Para sobremesa ainda tivemos direito a um leite creme  e a um surpreendente pudim de queijo da serra.


Uma tarde muito bem passada, com excelentes anfitriões, com o Casemiro a nos revelar, algumas das suas histórias que as várias décadas ligado ao vinho já lhe proporciona…

Texto – Fernando Costa e Duarte Silva

Fotos – Fernando Costa e J.M.Oliveira

Categorias Wine Experience

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