COSTA BOAL recupera TINTA GORDA nas Arribas do Douro

COSTA BOAL recupera TINTA GORDA nas Arribas do Douro

Nas terras quentes e áridas do concelho mais oriental de Portugal, ao longo da linha fronteiriça onde o planalto mirandês se precipita nas arribas moldadas pelo Douro tortuoso que corre bem lá no fundo, encontra-se mais um pequeno segredo do imenso património vitivinícola português: vinhas centenárias que teimam manter-se como um dos testemunhos vivos de um espaço natural e cultural único, cujas tradições as populações locais mais resistentes têm garbosamente logrado preservar.

Foi nessa sub-região recôndita de Trás-os-Montes que a Costa Boal resolveu aventurar-se, estendendo até aí o projecto que, sob a liderança de António Boal, lançou há cerca de uma década e que, centrado umbilicalmente nas terras de Mirandela e de Alijó onde se encontram as raízes da família, se vai estendendo com solidez a outros concelhos do Douro e de Trás-os-Montes, bem como a outras zonas do país (das quais, em breve, haverá novidades).

Os primeiros frutos da aposta nas Arribas do Douro começam a surgir, estando agora a ser lançados os dois primeiros vinhos que, sob o comando enológico de Paulo Nunes, brotaram de vinhas antigas implantadas nas encostas das imediações de Sendim, junto às gargantas onde, sem conhecerem a fronteira com a Espanha do outro lado do rio, voam aves majestosas como o grifo, o abutre-do-Egito, a águia-real e a ameaçada águia-de-Bonelli.

Foi nesse maravilhoso cenário natural que tivemos a honra de estar presentes numa apresentação dos vinhos em lançamento, ambos integrados na gama de topo da Costa Boal para Trás-os-Montes, o Palácio dos Távoras.

Tratam-se de vinhos singulares, produzidos com as castas típicas da zona, as quais, para além de castas brancas, como o Gouveio e a Dona Branca, incluem castas tintas como o Bastardo, a Tinta Amarela e a Tinta Gorda, esta última uma casta autóctone daquele local único, que é conhecida no lado de lá rio (províncias de Zamora e Salamanca) como Juan García (ou, também, como Mouratón, Negreda, Negreda Preta, Negrera, Nepada e Tinta Negreda).

Ambos os vinhos são da colheita de 2020 e, apesar da maturação que lhes é conferida pelas condições naturais de uma região marcada pelo Verão tórrido, pelas baixas humidades relativas e pela grande amplitude térmica dos seus dias, revelam-se especialmente delicados e elegantes, dotados de uma cor rubi aberta e de aromas amplos de frutos vermelhos. Sujeitos a uma cuidada fermentação de bagos inteiros em barricas de 500 litros, com remontagem manual das massas, são especialmente prazerosos e agradáveis de beber.

O Palácio dos Távoras Bago a Bago é composto por um blend das uvas das diversas castas presentes na vinha velha da região, incluindo cerca de 10% de uvas brancas, formando um conjunto harmonioso que impõe com subtileza a sua presença nos sentidos dos provadores. (Produção de 1733 garrafas de 0,75 l; PVP 45€)

Já o Palácio dos Távoras Tinta Gorda, completamente produzido com uvas desta casta tradicional, revela uma maior carga tânica, o que lhe confere um carácter mais seco e profundo, sempre envolto por aromas muito aprazíveis e desafiantes. Muito original, a sua prova constitui uma experiência única que não deixa ninguém indiferente. (Produção de 1000 garrafas de 0,75 l; PVP 37€)

Provadas as novidades vínicas das arribas mirandesas, foi a vez de degustar as colheitas mais recentes de três excelentes vinhos transmontanos, neste caso, provenientes das vinhas que a Costa Boal possui em Mirandela.

O Palácio dos Távoras Grande Reserva Branco 2020, produzido com a mistura de uvas tradicional das vinhas velhas da sub-região de Valpaços, apresentou-se com enorme categoria, conjugando aromas de fruta branca de grande requinte e contenção com notas gustativas igualmente austeras, mas refinadas e com assinalável persistência. Estagiado seis meses em barricas novas de carvalho francês, possui um volume de boca muito bom e augura excelente evolução. Um branco que merece ser especialmente acompanhado (Produção de 2000 garrafas 0,75 l; PVP 25€)

Avançando-se para os tintos, provou-se o Palácio dos Távoras Alicante Bouschet Grande Reserva 2018, produzido com uma casta presente nas vinhas velhas da região a que a Costa Boal vem dando particular atenção. Antes de ser lançado, permaneceu a estagiar em barricas novas de carvalho francês durante 18 meses. Com um nariz marcado por notas de frutos silvestres e azeitona, exibe um corpo médio e revela-se bastante poderoso na boca, mas sempre com um carácter químico que, amparado por uma elevada acidez, lhe confere boa frescura, equilibrando muito bem os seus 15% de álcool. (Produção de 1333 garrafas de 0,75 l; PVP 35€)

Por fim, foi servido o Palácio dos Távoras Gold Edition 2018, um vinho especial produzido com uvas de uma vinha com mais de 60 anos, com predominância para a Baga, a Touriga Nacional e o Alicante Bouschet. Bastante complexo aromaticamente, com nuances florais e especiadas muito interessantes, revela na prova de boca uma estrutura sólida e consistente que, envolta por taninos sedosos, oferece sensações gustativas multifacetadas e bastante prolongadas. (Produção de 1083 garrafas de 0,75 l e 125 magnuns; PVP 70€)

Após lindíssimo passeio de barco por entre as Arribas do Douro – durante o qual os vinhos Bago a Bago e Tinta Gorda, no seu berço natural, ganharam especial brilho -, houve ainda oportunidade de testar com javali e carne de vitela local a especial aptidão gastronómica dos tintos Alicante Bouschet e Gold Edition. O resultado, obviamente, só podia ser excelente.

Obrigado António Boal. Foi um privilégio conhecer de perto o projecto florescente que vem sendo desenvolvido por quem sabe distinguir a fantasia da realidade e percebe que o rasgo empresarial não pode prescindir do apego pelas raízes vitivinícolas do nosso território.

Texto J.N.D. / Fotos J.M.O.

Categorias Wine Experience

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