Breve Crónica de Viagem Cegueta – Ribera del Duero

Breve Crónica de Viagem Cegueta – Ribera del Duero

Esta é uma rubrica que proponho ser seguida por quem lhe aprouver:

Serão pequenas crónicas de algumas das viagens vínicas que se possam fazer por esse mundo afora, acompanhadas de fotos, e que ficarão arquivadas nos nossos “Ficheiros” para serem facilmente consultadas por todos. Também ficarão disponíveis no nosso “sítio”.

Ribera del Duero:

É uma região milenar na produção de vinho, que pouco depois de Valladolid ladeia o Douro, Duero para a hispânica vizinhança, com Denominação de Origem apenas em 1982, mantendo o nome já escolhido pelo mais antigo dos seus produtores, a Bodega Cooperativa de Peñafiel, fundada em 1927, mais tarde chamada Protos. Com altitudes entre os 600 e 900 metros, tem grande amplitude térmica, Verões muito quentes e Invernos rigorosos, à semelhança do “nosso” Douro, e tem a casta Tempranillo como rainha, admitindo-se também as castas de Bordéus, a Garnacha e outras de menor expressão. Aranda de Duero, capital da Ribera, e Peñafiel, são os locais mais importantes e que concentram o maior número de produtores.

Comecei pela Bodega Viña Mayor, pertencente ao grupo Bodegas Palacio 1894 (com adegas em mais regiões).Esta adega labora desde 1986 e é uma amostra do que um produtor médio em Espanha pode fazer. 3 milhões de garrafas, 8 mil barricas, 70% do vinho vendido por toda a Espanha. O tamanho muitas vezes conta…

Provei 3 vinhos:

1. Um Verdejo de 2018 feito em Rueda, chamado Caserio de Dueñas, com um nariz vegetal, espargos, maçã verde, lima e ananás e uma boca a cumprir o nariz, mas algo pesada e “chata”, a pedir menos álcool (13,5) e mais acidez. Por 9€ é apenas razoável;

2. Viña Mayor Crianza 2016, 100% Tempranillo, 12 meses de barrica que no nariz é notória, fruta negra e vermelha maduras; na boca, além da fruta madura, cacau, chocolate, azeitona negra, boa estrutura, sobremaduro, com tanino da barrica a notar-se. Também razoável por 13,90€;

3. El Secreto 2016 foi o melhor dos 3; 100% Tempranillo, é um vinho de autor e estagia em barricas de 500 litros, notando-se maior elegância; fruta vermelha, algum lácteo, na boca mais maduro que no nariz, com a fruta negra a dominar, também cacau e chocolate. Melhor pela elegância, mas a não valer os 20€.

Em frente, do outro lado da estrada, fica a Bodega Arzuaga-Navarro, a visitar para a próxima.

De volta à estrada, Vega Sicilia é pouco depois, mas apenas me valeu a foto à placa, que visitas não são permitidas…Seguiu-se Peñafiel, vila dominada pelo seu castelo bem altaneiro, por cima de parte da Protos, a mais antiga das bodegas da Ribera del Duero, segundo os próprios. São inúmeras as bodegas em Peñafiel, mas Protos é obrigatória. Esperava-me uma visita estupenda, com túneis e túneis debaixo do solo, escavados montanha adentro, cheios de barricas, sempre barricas… culminando o périplo de quase 2 horas na nova adega, parte subterrânea, parte à superfície; uma grandiosa obra de arquitectura!

A visita dá direito à prova de 2 vinhos:

1. Um rosé, o Aire de Protos, vinho simples, com ligeiro gás, leve groselha e morango a dominar;

2. Protos Crianza 2016, sério, com tostados e alguma baunilha da barrica, fruta negra e vermelha maduras, cacau, chocolate, pimenta preta, taninos ainda por polir, bom volume alicerçado nos 14,5 de álcool. Por 13,69€ é um bom vinho.

Inverti a marcha, até à Abadia Retuerta, para um pouco de descanso e provar algo mais antigo. A Abadia é um soberbo hotel, mas o meu fito estava do outro lado da estrada, no wine bar. Aqui pode-se provar, a copo, alguns destaques de colheitas antigas. Escolhi duas:

1. Pago Valdebellón Cabernet Sauvignon 2013, tem um nariz único a funcho, carqueja, chá, café, fundo de jarra, folha de tabaco, mogno… um sem fim de descritores; na boca, fruta negra madura, carne, vegetal seco, chá, algo pesado e com taninos de vinho jovem. Tem 14% e custa 103€. É um bom vinho, com guarda, mas caro;

2. Cuvée Palomar 2001, é um grande vinho! 50% Tempranillo e 50% Cabernet Sauvignon, 13,5%, 111€; nariz com pimentão, fruta negra, tostados, cacau, chocolate, ameixa, compota, terra, chão de floresta, cogumelos, graxa, a falar por todos os lados… boca a não ficar atrás, com fruta negra madura, água de azeitona, tosta, cogumelos, floresta, tabaco, cacau, chocolate, compotas de frutos negros, ainda taninoso, de grande amplitude e volume, vegetal e seco num final longo a impressionar.

De seguida, alguns quilómetros até Aranda de Duero e visita ao El Lagar de Isilla, uma bodega por baixo do restaurante, escavada 12,5m no solo em 1503. Aqui, infelizmente sem prova, que havia ainda muito que andar até Haro, já na Rioja.Resumindo e pela amostra provada, parece-me que a Ribera ainda tem vinhos muito marcados pela barrica, sobremaduros, algo alcoólicos e pesados, a precisar de guarda e a clamar comida, mas faltou provar muito, principalmente pequenos produtores.Segue-se a Rioja, brevemente 😉

Texto e Imagens : Carlos Ramos

Categorias Wine Experience

Acerca

Cegos Por Provas

Os Cegos por Provas nasceram através da plataforma Facebook, apaixonados pelo vinho, o grupo desenvolve vários eventos vínicos a nível nacional.