NOBLE & MURAT – Vinhos com Alma e História

NOBLE & MURAT – Vinhos com Alma e História

António Borges Taveira e o seu sobrinho Alexandre Antas Botelho, descendentes das famílias proprietárias da Quinta do Bragão, situada em Celeirós (Sabrosa), em plena Região Demarcada do Douro, associaram-se em Junho de 2012 para abraçar a actividade de produção de vinho de qualidade com a qual conviviam desde a infância.
Para esse efeito, dada a longa tradição familiar de fornecimento de vinhos a firmas inglesas que os engarrafavam e comercializavam com as suas marcas, recuperaram uma marca histórica de vinho do Porto – Noble & Murat – e formaram uma das mais jovens empresas a operar no sector.

Noble & Murat teve a sua origem na actividade de Timothy Harris, mercador inglês que se fixou na cidade do Porto nos finais do século XVII, fundando em 1700 uma empresa à qual se foram associando alguns dos mais activos comerciantes ingleses da época como John Page, Birquid Pratt, Joseph Murat e Charles Henry Noble. Depois de algumas alterações societárias, passou a adoptar, a partir de 1831, a denominação “C H Noble & Murat”, e manteve intensa actividade comercial até ao início do século XX. Firma generalista, como era habitual na época, importava bacalhau seco de Inglaterra e da Terra Nova, negociava tecidos, ferro e vidro e exportava laranjas e sal português, mas o vinho foi-se destacando cada vez mais como o seu principal produto de exportação, o que fez com que a empresa, gradualmente, se especializasse e a centrasse a sua actividade, quase exclusivamente, no vinho do Porto. Curiosamente, é atribuída a Geoffrey Murat Tait, trisneto de Joseph Murat e outro dos sócios da firma, uma das primeiras referências ao que era na altura um tipo de vinho do Porto ainda desconhecido, o Late Bottled Vintage ou LBV.

Dispondo do stock mínimo necessário para o exercício da actividade (150.000 litros, cerca de 300 pipas), António Taveira e Alexandre Botelho centraram exclusivamente o seu projecto na produção de vinhos do Porto, apostando na qualidade de vinhas antigas cujas uvas, durante muitas décadas, haviam sido fornecidas a casas prestigiadas como a Taylor’s, a Croft ou a Sandeman, bem como nas potencialidades dos métodos de produção e vinificação tradicionais.  

Para tal, a Noble & Murat desenvolve durante todo o ano esmerado trabalho de campo em seis vinhas de solo xistoso localizadas em diferentes zonas da sub-região do Cima Corgo (Vale do Pinhão, Vale do Tedo e Covas do Douro), encaminhando as suas uvas, após a colheita manual, para a adega que possui nos limites de Celeirós do Douro, em plena margem direita do rio Pinhão. Aí, as uvas são sujeitas a um processo de vinificação clássico, com recurso à pisa a pé e à utilização de macacos em madeira para trabalhar artesanalmente o mosto que fermenta em lagares de granito.

Todo o processo é orientado para, após meticuloso trabalho de adega, ser produzido vinho do Porto de qualidade “vintage”. Ainda assim, para honrar a imagem de qualidade irrepreensível do produto final que disponibiliza, a Noble & Murat apenas engarrafa o seu vinho como Porto Vintage nos anos em que são superados inequivocamente os mais exigentes critérios de distinção, apostando decididamente na excelência do vinho L.B.V. (Late Bottled Vintage) que, sem ser sujeito a processos de filtração ou de colagem, coloca no mercado. “Qualquer dúvida ou hesitação que surja, por mais leve que seja, quando se está a decidir sobre se o vinho vai ser ou não vintage, é imediatamente resolvida no sentido de destiná-lo a L.B.V.“ – confidencia António Borges Taveira, durante a visita em que, na companhia do sócio Alexandre Antas Botelho, nos deu a conhecer a quinta onde, a par das demais instalações de apoio, se situam a adega e a fascinante sala de envelhecimento dos vinhos de porto da Noble & Murat.

Foi aí que, após degustarmos algumas das relíquias guardadas nas barricas, provarmos um curioso vinho branco de “meia-curtimenta” e sermos brindados com um vinho muito especial proveniente de uma vinha pré-filoxérica, em pé franco, com cerca de 60% de castas tintas e 40% de castas brancas, tivemos o privilégio de efectuar uma prova dos vinhos do Porto mais recentemente lançados pela Noble & Murat.

Começamos por uma novidade absoluta: o “Reserve Port”, uma espécie de LBV engarrafado mais tarde que, com 7 anos de estágio em tonéis e cubas de inox, está a meio caminho entre o (já não é) Ruby e o (ainda não é) Tawny. Vinho sem filtragem, meio-seco, com taninos bem amaciados, licoroso, tem ginjas em calda, mentolados, madeira de tonel velho. Muito versátil e agradável. Dará origem ao Colheita 2012 (a ser lançado ainda), esse que foi o primeiro ano da Noble & Murat. (16/16,5).

Seguiu-se o L.B.V. 2014. Feito com uvas provenientes do Bragão e de outras parcelas de vinha velha do Cima Corgo. Possui excelente fruta e um perfil claro de Vintage. Com notas de óleo de cedro no nariz, na boca é poderoso e comprido, cremoso, com acidez em bom plano apesar do calor que transmite – mais pelo efeito do álcool das uvas que da aguardente. Sente-se a estrutura conseguida através da extracção que é feita no lagar, e não pela densidade dada pelo açúcar. Foram produzidas 4000 garrafas. (17/17,5)

Para finalizar, provamos o Vintage 2017: Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinto Cão, entre outras. Exuberante, floral, ainda presentes estão as notas típicas de Vintage jovens, como a banana e alguns lácteos. Especiado e poderoso, potenciado pelo trabalho no lagar (fermentação selvagem), a desenvolver-se paulatinamente na boca, onde deixa um ligeiro couro. Os taninos sobrepõem-se à acidez, para já, tudo num ambiente quente. Aroma viciante no fim do copo. 2.500 garrafas. (17,5/18)

Concluída a prova, António Taveira e Alexandre Botelho falaram-nos com entusiasmo dos planos que desenvolvem para continuar a expandir o seu projecto, quer dentro das nossas fronteiras, quer junto dos principais mercados de exportação, como acontece já em países como a Bélgica, a Dinamarca, a França, o Luxemburgo, a Alemanha ou os Estados Unidos da América, onde a qualidade do produto Noble & Murat tem vindo a conquistar tanto especialistas como consumidores e apreciadores em geral.

A conversa fluiu e, sob o cenário natural do vale onde se contorce, ao fundo, o Rio Pinhão e se avista, do outro lado, quintas históricas como o Fojo, o Passadouro, a Quinta da Manoella, a Quinta do Silval e, mais ao longe, a Quinta do Noval, os nossos anfitriões deliciaram-nos com o seu sentido testemunho sobre a história do Douro e suas gentes e sobre as interrogações e a esperança que têm quanto ao futuro da região, fazendo-nos perceber que – realmente – a qualidade dos vinhos nunca deixará de estar associada à alma e ao carinho de quem sente o local de onde os mesmos brotam.

Texto de J. N. Duarte.

Notas de prova de Marco Lourenço

Categorias Wine Experience
Tags: Cima Corgo, Porto

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