Essência 2020 – Resumo de uma Breve Passagem

Essência 2020 – Resumo de uma Breve Passagem

Na quinta-feira fui até à Essência provar alguns dos bons vinhos que se fazem em Portugal. Claro que um dia, dá só para visitar um número pequeno de produtores e nem sempre provamos todos os que tínhamos pensado porque, por vezes, alguns estão com muitas pessoas, o que implica esperar demasiado.

Os vinhos da região dos Vinho Verdes provados tinham um nível bem elevado, a mostrar que na região já há muitos produtores de grande qualidade mesmo de pequenos produtores como os da Quinta do Mascanho com um espumante muito bom, sem aquela bolha agressiva que ainda é frequente em muitos espumantes da região e um alvarinho ao mesmo nível (os rótulos são é pouco legíveis). Os vinhos da Quinta de Santiago também estão cada vez mais afinados, dando todos uma boa prova, mesmo o base feito de Loureiro e Alvarinho tem uma frescura que o torna imensamente gastronómico. E o que dizer do Vale dos Ares Vinha da Coutada, tão somente um dos melhores brancos de Portugal. Ao nível dos clássicos só provei os da Quinta do São Joanne com o seu fabuloso espumante Grande Reserva 2011 Brut Nature, ao nível do melhor que se faz em Portugal, e dois dos melhores Vinhos Verdes de Portugal (o Escolha e o Superior 2015) que envelhecem de forma magnífica (já os bebi com cerca de 15 anos e estavam ainda melhores). E o que dizer dos Vinhos da Quinta do Regueiro? Este pequeno produtor nos últimos 20 anos transformou-se num dos maiores ícones dos produtores de Monção e Melgaço, em que mesmo o Quinta do Regueiro é um vinho sem concessões e imensamente gastronómico que envelhece muito bem. Todos os vinhos provados eram muito bons mas devo destacar o Primitivo 2018 (fresquíssimo e com um final muito prolongado) e o soberbo Jurássico (lote de vinhos das colheitas de 2007, 2008, 2009 e 2010) que foi para mim, o melhor branco provado na Essência deste ano (também o foi por um júri internacional).

Do Douros eram tantos os produtores que foram muitos os vinhos provados com muita qualidade, em que só vou destacar alguns como o Poças que tinha um rosé que para mim, será o melhor nacional até 10€ pois tinha um bom aroma e era bem seco, fresco diria até um pouco salino e com um bom prolongamento de boca. Já o Branco da Ribeira 2018 foi também um dos melhores brancos provados com uma boca opulenta com madeira notória mas de qualidade e bem integrada (claro que com mais uns anos ficará ainda melhor) e uma acidez elevada a equilibrar o conjunto. O Poças Símbolo bem como o Quanta Terra Manifesto também estavam entre os melhores Douros tintos provados. Um tinto mais invulgar, e que me cativou muito, foi o Niepoort Tinta Amarela, com uma elegância fora do comum mas com muito sabor e fresquíssimo. O nível de todos os vinhos deste grande produtor é muito bom mas um outro vinho que me fez arregalar os olhos foi o Redoma Reserva 2018, talvez a melhor colheita deste branco que já provei e um dos melhores brancos provados na Essência, um vinho leve mas absolutamente deslumbrante. O Coche também foi provado mas esse ainda precisa de mais uns anos para mostrar tudo o que vale. Outros vinhos durienses invulgares que me cativaram foram o Vallado Sousão Unoaked 2019 (para mim bem melhor do que o com madeira) com uma fruta deliciosa, fresco e fácil de beber mas ainda assim, acho que com personalidade suficiente para acompanhar a magnífica lampreia – cujo nome está no rótulo) e o Vallado Vinha da Coroa num perfil mais elegante mas bem conseguido. Também provei o Vallado Reserva Tinto mas ainda está demasiado novo, com muito tanino e ainda com madeira por integrar.

Do Dão destaco os vinhos da Casa da Passarela desde o Abanico Reserva branco com uma qualidade/preço fantástica aos grandiosos Villa Oliveira Encruzado e Pedras Altas. De um produtor novo, Madre Água, mas com o mesmo enólogo (o consagrado Paulo Nunes) destaco o Syrah num perfil muito fresco e um pouco vegetal que foge bastante ao normal desta casta em Portugal e o Encruzado, além do topo de gama, o Vinhas Velhas 2016 Tinto, com uma grande intensidade de sabor e ainda com uns taninos que recomendam esperar um pouco mais por ele. O Varanda da Serra 2013 é que já dá uma grande prova, sendo um belo representante dos vinhos do Dão.

No Alentejo também foram vários os vinhos de grande qualidade provados. Um dos meus vinhos preferidos do Alentejo, o Tricot na edição de 2015 continua com o mesmo perfil, com um lado vegetal e bem fresco, com um final de boca prolongado. O Dona Maria Grande Reserva 2014 está bem conseguido, com um bom equilíbrio entre potência, elegância e frescura. Na Tapada de Coelheiros brilhou o Vinha do Taco 2010 e o Garrafeira 2012 que foi pura e simplesmente o vinho tinto que mais me prazeu deu de toda a Essência, pois está absolutamente grandioso com uma grande potência mas com taninos polidos, uma grande frescura e um final interminável. Este vinho não é nada barato, mas é verdadeiramente um garrafeira, só lançado em anos especiais e só passados vários anos após o seu engarrafamento, vale bem o dinheiro que pedem por ele. Outro produtor que gostei bastante foi o Cortes de Cima com um Trincadeira nada fácil pelo lado vegetal e bem fresco e até o Aragonês estava com uma frescura impressionante e com um corpo mais cheio do que o Trincadeira que é sempre mais elegante. Por último, o Cortes de Cima Reserva 2014, outro grande tinto alentejano daqueles capaz de impressionar qualquer um e que me deu também um grande prazer.

Provei ainda bons vinhos de várias outras regiões em que destaco pela sua qualidade os Palácio dos Távoras Vinhas Velhas Alicante Bouschet e o Gold Edition de Trás-os-Montes.

Por último, bebi um grande licoroso, o Kopke 40 anos, que estava fabuloso, com tudo o que alguém pode querer de um Porto Tawny.

mde
Categorias Wine Experience

Acerca

Cegos Por Provas

Aqui fala-se de tudo, desde que de vinho. 11 enófilos dedicados à mais nobre das líquidas causas...